As vítimas foram surpreendidas em várias comunidades localizadas na margem sul do monte, segundo David de León

Ao menos 65 pessoas morreram na Guatemala na erupção do vulcão de Fuego, que arrasou vários povoados com uma avalanche de lama e cinza incandescente, anunciaram nesta segunda-feira as autoridades.

O porta-voz da Coordenadoria para a Redução de Desastres (Conred), David de León, informou aos jornalistas que o número de mortos subiu para 65 horas após o início dos trabalhos de resgate.

A Conred informou ainda 46 feridos, 3.263 evacuados de suas casas e 1.687 pessoas levadas para abrigos nos departamentos de Escuintla (sul) e Sacatepéquez (oeste), que ao lado de Chimaltenango (oeste) são os mais afetados pela erupção.

“Se desta vez nos salvamos, em outra (erupção) não”, disse à AFP Efraín González, de 52 anos, levado para um abrigo de Escuintla, ao lado da esposa e da filha de um ano.

O desespero toma conta de González, pois o filho de 10 anos e a filha de 4 do casal são considerados desaparecidos. A casa da família foi atingida pela lava do vulcão, de 3.763 metros de altura e que emitiu colunas de cinza de quase 6.000 metros de altura.

As imagens exibidas na televisão e divulgadas nas redes sociais mostram corpos no chão, assim como veículos e casas destruídos pela erupção.

O secretário da Conred, Sergio Cabañas, afirmou que as vítimas fatais foram presas pela lava que desceu do vulcão, situado a 35 km da capital.

De León indicou que as tarefas de busca de corpos e desaparecidos foram suspensas durante a a noite por falta de luz e pelo perigo para as equipes, mas foram retomadas na manhã desta segunda-feira.

A erupção acabou após 16 horas e meia de atividade, mas existe a probabilidade de uma retomada, afirmou o Instituto de Vulcanologia, que recomendou medidas de precaução.

O presidente Jimmy Morales decretou três dias de luto e estado de emergência ou calamidade em Escuintla, Sacatepéquez e Chimaltenango, mas a medida precisa ser ratificada pelo Congresso.

O Grupo de Doadores, integrado por Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Suécia, Suíça, França, União Europeia, além do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização dos Estados Americanos e o sistema da ONU na Guatemala, expressou solidariedade e apoio para o país superar a tragédia.

A chuva de cinzas provocada pelo vulcão levou à interrupção das operações no aeroporto internacional da Cidade de Guatemala, inicialmente por 24 horas, informou a Direção Geral de Aeronáutica Civil.

O Vulcão de Fogo, localizado entre os departamentos de Escuintla, Sacatepéquez e Chimaltenango, registrou sua primeira erupção de 2018 em janeiro.

Em setembro de 2012, provocou a última emergência por erupção no país, o que resultou na retirada de 10 mil habitantes localizados em localidades ao sul do vulcão.

– Fluxo de erupção mais rápido –

A erupção do vulcão de Fogo na Guatemala gerou colunas de rochas e gás cujo fluxo é mais rápido que o da lava, segundo explica o geólogo David Rothery, da Open University da Inglaterra.

Segundo ele, deveria se ter definido uma zona de evacuação para que não houvesse tantas vítimas.

“No geral, o Vulcão de Fogo não produz colunas longas e fluidas como, por exemplo, as do Kilauea, no Havaí”, afirma o especialista, explicando o por que do fenômeno.

“Pelos vídeos que vi, são uma ou várias colunas piroclásticas, que ocorrem quando os fragmentos de rochas e gás quente ejetados pelo vulcão são muito densos para subir como uma coluna de cinzas”, informa ainda.

Segundo ele, estas colunas podem se deslocar a mais de 100 km/h, muito mais rápido e muito mais distante que as de lava.

Este tipo de coluna foi a que provocou tantas vítimas durante a famosa erupção do Vesúvio no ano 79 d.C, que destruiu a cidade de Pompeia.