No começo deste mês de fevereiro o engenheiro civil, presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e professor universitário, Joel Kruger, afirmou que “a engenharia brasileira, reconhecida mundialmente pela sua qualidade e eficiência, vem sendo atingida por episódios que mostram que é necessário repensar urgentemente o modelo vigente”.
Essa afirmação foi feita em comentário ao rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG) que, a cada instante causa comoção a milhares de famílias ligadas direta ou indiretamente ao trágico acontecimento, com centenas de mortes e a certeza de mais um desastre ambiental de grandes proporções.
Antes, o rompimento de outra barragem, também em Minas Gerais, já havia deixado famílias de luto com 19 mortos e uma destruição ambiental que avançou para outros estados e modificou completamente a vida de milhares de pessoas, a grande maioria prejudicada pelo ambiente que restou.
No Amapá houve queda de vigas de ponte matando trabalhadores e mutilando pessoas, além da queda do Porto da Icomi onde seis trabalhadores perderam a vida e, até agora, quatro anos depois, nenhuma conclusão se chegou sobre o acontecimento. Além disso, o setor público vem esquecendo de se ocupar da manutenção das obras realizadas há mais de 30 anos, sem fazer as inspeções tecnicamente necessárias e que desafiam, todos os dias, os usuários contribuintes que não fazem ideia do risco a que estão submetidos.
Essas situações retratam o momento de desmanche que atravessa a engenharia brasileira, fruto do descaso de sucessivos governos que insiste em tratá-la como serviço comum, como se fosse possível realizar obras dessa natureza observando apenas o menor preço.
Ao contrário do comum os serviços de engenharia exigem conhecimento especializado, justamente “por serem caracterizados pelas realizações de interesse social e humano” conforme expresso na Lei 5.194/66.
Desde os anos de 1980 que a engenharia brasileira vem se transformando em suco. Maltratada, desvalorizada e abandonada. Formados em excelentes escolas muitos profissionais migram para outros mercados, como o financeiro, onde os ganhos pecuniários são muito maiores aos pagos nas carreiras de engenharia, seja na iniciativa privada ou no serviço público.
O desmantelamento dos quadros de engenharia de serviços público é outra preocupação, pois instituições de muita importância para a sociedade como Embrapa, Denit, Ibama, Seinf, Setrap, entre tantas, sofrem com a falta de quadro técnico. Funcionários se aposentam e não são repostos. O resultado é a dificuldade de fiscalizar com eficiência e rapidez.
Para reverter esse quadro é preciso que a engenharia volte a ser pensada sobre os quatro pilares fundamentais: planejamento, projeto, execução e manutenção. Não existe engenharia sem essas fases, que são diretamente interligadas.
Não se faz engenharia sem planejamento prévio, sem os diversos projetos – do básico ao executivo –, sem uma execução minuciosa e, certamente, sem a devida manutenção preventiva.