Rodolfo Juarez

Mais um verão que chega abrindo as comportas das oportunidades para que se complete a construção da BR-156, tramo norte, esta que é a rodovia federal com mais tempo de construção em todo o Brasil.
Imaginada para ser o principal meio de indução do desenvolvimento do Estado do Amapá, acabou se transformando no principal empecilho para esse mesmo desenvolvimento, desenhado nos primeiros planos de interiorização do progresso na área geográfica, primeiro do Território Federal do Amapá e, depois, do Estado do Amapá.
A proposta dos primeiros idealizadores da construção daquela rodovia indicava que mais da metade do território dentro dos limites do agora Estado do Amapá, teria na rodovia o seu principal vetor para implantação do progresso nas áreas que estão sob o domínio dos municípios de Macapá, Porto Grande, Ferreira Gomes, Tartarugalzinho, Pracuuba, Amapá, Calçoene e Oiapoque.
Um seminário realizado pela Associação Comercial e Industrial do Amapá, em fevereiro de 1999, que contou com a participação do empresário Walter do Carmo, do agrimensor Amaury Farias e do jornalista Hélio Penafort, que palestraram e deram um verdadeiro testemunho, quando da apresentação do painel “Histórico do BR-156”, possibilitando aos técnicos do Governo do Estado e do Governo Federal, presentes no evento, uma visão bem próxima do que consideraram uma verdadeira epopeia vivida durante os mais de 45 anos de trabalho na rodovia.
Walter do Carmo narrou que os trabalho de construção da Rodovia BR-156 tiveram início no mês de julho de 1932, sob o comando do Marechal Cândido Rondon, ficando paralisada no km 9 até o ano de 1945, quando foi retomada a sua construção pelo primeiro governador do Território Federal do Amapá, Capitão Janary Nunes. Em 17 de setembro de 1952 os primeiros tratores chegaram a Calçoene e, em dezembro de 1956, na localidade de Lourenço. Em julho de 1964, foram retomados os trabalhos de construção da rodovia e, em 28 de dezembro de 1970, quando governava o Território do Amapá, o general Ivanhoé Gonçalves Martins, foi consolidada a ligação pioneira do Rio Amazonas com o Rio Oiapoque por estrada de terra.
Depois de 1970 abriu-se uma discussão técnica sobre a proposta socioeconômica da rodovia BR-156. Antes tida como uma rodovia de penetração, que buscava interiorizar o desenvolvimento, agora passaria a ter uma proposta de rodovia de integração, se transformando em um grande eixo econômico capaz de integrar o Brasil ao Platô das Guianas e de promover a integração dos municípios amapaenses no Projeto Arco Norte que previa a BR-156 chegando ao Oiapoque, possibilitando a ligação com Caiena, de lá até Paramaribo, no Suriname e, daí até Georgetown, na Guina, de onde sairia para Boa Vista (RR), no Brasil, daí até Manaus, por um tronco e por outro, até a Transpacífico, a rodovia que abriu janela para o Oceano Pacífico.
Por enquanto, o tramo norte da Rodovia BR-156, projetado para ligar a cidade de Macapá à cidade de Oiapoque e à ponte sobre o Rio Oiapoque, é o mais esperado.
Exatamente o trecho entre Calçoene e Oiapoque, de aproximadamente 110 km de extensão, que foi licitado em dois lotes de, aproximadamente 55 km cada um, ainda é de terra batida, perdendo pavimento a cada inverno e deixando os usuários ou no prejuízo, ou muito aborrecidos pelos problemas que têm que enfrentar a cada viagem.
O Dnit, que é o órgão do Ministério dos Transportes responsável pela obra passa, no momento, por reestruturação administrativa e técnica, buscando a reinvenção depois das ações da Polícia Federal naquele órgão federal, em operações que levaram ao cárcere os seus dois últimos superintendentes, acusados por corrupção entre outros crimes, e ao encerramento das atividades do órgão em Macapá, retornando o controle do departamento equivalente no Estado do Pará.
Assim, neste mês de julho de 2020, quando a construção da BR-156 completa 88 anos desde seu início, mais uma vez as esperanças se renovam e a expectativa aumenta.