De difícil combate, as notícias falsas ganham força em ambientes com baixos índices educacionais.
No século 6, o historiador Procópio escreveu um texto chamado Anekdota com o objetivo de, por meio de informações falsas, arruinar a reputação do imperador Justiniano, o que demonstra que o fenômeno hoje chamado de “fake news” não é recente.
Entretanto, com o advento da internet, ele ganhou muito mais força, a ponto de muita gente considerar que estas notícias falsas tiveram um papel fundamental na eleição de Donald Trump.
No ano passado, dois adolescentes de uma pequena cidade da Macedônia, nos Balcãs, ficaram famosos ao serem apontados como os administradores de um site de notícias falsas sobre as eleições americanas com matérias favoráveis ao candidato republicano que geraram milhões de compartilhamentos.
No Brasil, esse fenômeno também é muito comum e notícias como a que diziam que a esposa de Lula havia simulado a própria morte e fugido para a Itália, abundam.
Cabe lembrar que o problema é potencializado pelo fato de, cada vez mais, as pessoas utilizarem as redes sociais para se informarem. Segundo pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, eram 47% em 2013 e 92% em 2019.
As notícias falsas, inclusive, talvez por serem geralmente mais espetaculares, geram muito mais engajamento na rede que as verdadeiras, chegando a se afirmar que as 20 notícias falsas sobre a eleição americana com maior engajamento no Facebook nos três meses que antecederam a votação geraram mais engajamentos (8,7 milhões) que as 20 notícias reais com mais reações publicadas por veículos tradicionais (7,3 milhões).
Mas, diferentemente do que muitos podem pensar, o principal motivador da proliferação de fake news não é o puro desejo de caluniar ou ajudar alguém ou alguma instituição, mas simplesmente ganhar dinheiro. Quanto maior a audiência da página, mais ela ganhará com publicidade.
No Brasil, às vésperas do Natal passado, um site chamado Pensa Brasil publicou uma notícia com o título “Lula lutou muito pelo Brasil, não merecia esse juizinho fajuto, diz Gilberto Gil”, ilustrada com uma foto do artista e referindo-se ao juiz Sérgio Moro.
Gilberto Gil processou o site, que retirou a notícia, mas, então, ela já havia sido vista e compartilhadas por milhares de pessoas. De acordo com matéria da Folha, o Pensa Brasil teve, em dezembro passado, 701 mil visitantes únicos, com média de três páginas vistas por visita (ou seja, 2,1 milhões de páginas vistas/mês).
Profissionais do mercado publicitário consultados estimaram que os anúncios do site Pensa Brasil rendam de R$ 100 mil a R$ 150 mil por mês, dos quais até 50% ficariam com o intermediário e o restante com o dono do site.
A maioria dos sites desse tipo são registrados fora do país, não identificam os autores dos textos e não publicam expediente, endereço ou telefone para contato.
Curiosamente, muitos que compartilham notícias falsas o fazem mesmo cientes disso. Segundo pesquisas, na era das redes sociais, não se compartilha e curte notícias apenas para informar ou persuadir, mas como um marcador de identidade, uma forma de proclamar sua afinidade com uma comunidade particular.
Interagir com uma notícia falsa, argumenta, pode enfurecer os de fora dessa comunidade, mas é um “sinal convincente de fidelidade ao seu grupo”.

As fake news formam um grande labirinto com dificuldades imensas para sair delas.