Rodolfo Juarez
A cidade de Macapá, por um bom tempo, foi conhecida como “Cidade Joia da Amazônia”. Naquele tempo – e não foi pouco tempo – os macapaenses, todos os dias e durante todo o dia, ouviam pelas emissoras locais a classificação que levantava o moral e alimentava o ego dos macapaenses.
A Rádio Difusora e a Rádio Equatorial, especialmente essa, a todo fôlego levavam a frase que se tornou codinome da cidade, título de poesia, refrão de música e assinatura obrigatória de importantes programas de rádio e de televisão.
Luca Melo e Luca Roberto, talvez a dupla mais importante do rádio esportivo local, sempre aproveitavam esse codinome para estabilizar as suas especiais e inovadores participações nas jornadas e nos programas esportivos de uma época onde o esporte local, especialmente o futebol, se praticava com respeito, olhando no olho do adversário, sempre o considerando importante porque sabiam que, na Cidade Joia o esporte tinha que ser joia joinha.
Mas os tempos passaram e nessa jornada as mudanças não incorporam a realidade de outrora. Houve a necessidade de criar seus próprios slogans para a cidade, os mais variados foram experimentados. Nenhum “emplacou”!
No tempo da Cidade Joia, Macapá recebia os migrantes oferecendo locais para construção de residência em áreas destinadas às áreas de expansão. E não era diferente o fluxo daquele tempo, poderia ser até maior considerando o número de habitantes que dobrava a cada 10 anos.
O comércio ululante da Cândido Mendes, composto por pessoas com longa experiência no ramo, e alguns aventureiros. Diferente de agora. Os fregueses não conhecem mais os comerciantes, os antigos se perderam num mar de estranhos e descompromissados, que, ao contrário daqueles do tempo da Cidade Joia, trabalhavam para melhorar a cidade. Os comerciantes de hoje, nem na porta vão. Não descem dos seus escritórios para cumprimentar o cliente. Ele que se vire.
Mas a cidade seguiu e começou a ser mais apressada do que os prefeitos e os vereadores e todos os outros políticos, se transformando em uma cidade com muitos problemas, sem esgoto, água potável para a metade da população, invasão sistemática das baixadas. Prejuízo para a cidade e para a saúde dos seus habitantes.
A conta para os políticos chegou. A população passou a não acreditar em ninguém e a não prestar a atenção para ninguém daqueles que se apresentavam para governar o Estado ou administrar o município.
Depois de muita “chibatada no lombo” o eleitor começou a entender que ele também era responsável pela grave e longa crise na saúde, pelos resultados sofríveis nas avaliações da educação. Descobriu que estava errando sistematicamente e começou a entender que era preciso mudar. Assim mudou os prefeitos, os vereadores, mas ainda não mudou os governadores. Sim, governadores. Tudo no plural.
As eleições começaram a apresentar novas lideranças. E lideranças locais.
Foi difícil não votar mais como manada. Aliás, diziam os sulistas do Brasil que um ex-presidente tinha no Amapá e, especialmente em Macapá, uma manada.
Mesmo assim, os filtros ativados pelos eleitores às vezes vazam todo o produto que tinha dentro, espalhando pelo chão, deixando um cheiro ruim que exige depuração para não se tornar um “escorrega” onde todos caem.
O Amapá começou a contar com aqueles que são amapaenses, conhecem as nossas dificuldades e querem o apoio de todos, inclusive dele, para melhorar as situações que foram negligenciadas por muitos.
Um exemplo é o Lugar Bonito, que foi bonito nos primeiros meses da inauguração. Foi aprovado pelo povo, mas esquecido pelas autoridades. Agora precisamos mudar tudo isso. O eleitor está, outra vez, com a faca e o queijo na mão.