Por Eliza de Lima e Mário Guedes

Nos corredores dos hospitais e outras unidades de saúde de todo o país, profissionais cumprem turnos extensos, com paramentação pesada e muitos equipamentos de proteção individual. O risco de contaminação é alto, mesmo que eles não lidem diretamente com os pacientes de Covid-19. Embora a rotina seja muito parecida, não se tratam de médicos ou enfermeiros, mas de trabalhadores da limpeza hospitalar, incansáveis em sua missão de manter os ambientes, equipamentos e superfícies impecavelmente higienizados, uma atividade imprescindível no combate à pandemia.
O coronavírus é apenas uma das muitas ameaças biológicas que esses profissionais enfrentam todos os dias. Ainda corria o século XIX quando o médico húngaro Ignaz Semmelweis descobriu que o simples ato de lavar as mãos poderia diminuir de forma significativa as infecções e mortes dos pacientes na enfermaria da maternidade de um hospital em Viena, na Áustria. Uma prática que, atualmente, não é apenas normal, mas absolutamente imprescindível em unidades de saúde, ainda não era costume há 150 anos.
A partir dali, a história da limpeza dessas instituições mudaria de modo rápido e definitivo. O lavar de mãos evoluiu para práticas pessoais de higiene e cuidados mais ostensivos e, além dele, começou-se a pensar em outros protocolos que pudessem contribuir para que os hospitais se tornassem não apenas limpos, mas desinfectados e, portanto, mais seguros para pacientes, médicos, enfermeiros e quem mais pudesse frequentá-los. Com isso, muito antes da pandemia de Covid-19, a limpeza e a desinfecção de superfícies em locais de atendimento à saúde tornou-se uma das condições básicas de funcionamento. As chances de um paciente contrair as chamadas infecções relacionadas à assistência à saúde (Iras) podem ser reduzidas em até 90% com a simples adoção de uma higiene correta do ambiente hospitalar, segundo alguns estudos.


Popularmente conhecidas como infecções hospitalares, as Iras ocorrem em pacientes internados em instituições de saúde e são causadas por microrganismos adquiridos a partir de outras pessoas que também estiveram no hospital. É o que a ciência chama de infecção cruzada. No entanto, elas também podem ser adquiridas por meio de objetos ou substâncias recentemente contaminadas por outra fonte humana, a infecção ambiental. A ocorrência de ambos os tipos de infecção pode ser minimizada se a higienização for realizada por profissionais de limpeza bem capacitados e orientados, visto que a execução dessas tarefas demanda conhecimento sobre técnicas, produtos e equipamentos específicos.
Ao contrário do que muitos ainda acreditam, ninguém nasce sabendo limpar. E, no ambiente hospitalar, essa máxima é ainda menos verdadeira. Ter o conhecimento adequado de técnicas, produtos e equipamentos vai garantir uma limpeza e desinfecção corretamente realizadas. Mas não é tudo. Além disso, também é preciso que os profissionais de limpeza que atuam nesses espaços estejam emocionalmente preparados. Afinal, eles estarão lidando diretamente com vidas humanas – e a recuperação e sobrevida dessas pessoas dependem da responsabilidade e boa conduta pessoal frente aos quadros clínicos dos pacientes, bem como da sensibilidade emocional de parentes, acompanhantes e equipe do hospital.
Embora recente, a pandemia de Covid-19 escancarou uma realidade que muitos ainda se negam a encarar: profissionais de limpeza que atuam na área da saúde precisam ser altamente especializados. Não basta saber fazer a higienização, é necessário o desenvolvimento da percepção global de sua função, com compreensão total de questões relacionadas à biossegurança antes, durante e depois do expediente. Trata-se de uma escolha profissional que traz consequências para a conduta dessas pessoas dentro e fora do ambiente laboral. Trabalhar com a limpeza hospitalar exige seriedade e renúncias pessoais.
Por isso, esses profissionais devem ser devidamente valorizados. O investimento feito neles deve sempre aliar equipamentos e produtos de limpeza adequados a um programa de capacitação continuada. Assim, mesmo em tempos de pandemia, quando o número de infectados pressiona o sistema de saúde e os profissionais que atuam na linha de frente – incluindo a equipe de limpeza -, a formação profissional ajuda a trazer segurança para realizar os procedimentos com eficiência e qualidade, apesar das dificuldades.

*Eliza de Lima é auxiliar de hotelaria hospitalar e ex-aluna da Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities (Facop). Mário Guedes é biólogo e coordenador dos cursos de limpeza da Facop.