As caixas rufaram e os festeiros vieram para fazer a festa da cidade centrada no Marabaixo.
Valdinete Costa, representante do grupo Berço do Marabaixo, fazendo referência à Residência Oficial, onde aconteceu a abertura oficial do Ciclo do Marabaixo 2022, com o apoio do Governo do Amapá, assim se manifestou: “Hoje é um dia histórico, quando os negros dançam marabaixo no lugar de onde um dia nossos antepassados foram mandados embora”.
Conta a história que o então governador Janary Gentil Nunes (1912-1984) transferiu negros que habitavam a área onde hoje é o Centro de Macapá, para a construção de prédios como a própria Residência. Dali, tiveram origens os bairros do Laguinho e Favela (Santa Rita) e esse fato deu origem ao famoso ladrão (verso de marabaixo) “Aonde tu vai, rapaz, por esses caminhos sozinho? Vou fazer a minha morada, lá nos campos do Laguinho”.
Passados mais de 70 anos do episódio, a comunidade negra fez o caminho inverso. Os cinco grupos que participaram da abertura do Ciclo do Marabaixo: Raízes da Favela, Berço do Marabaixo, Marabaixo do Pavão, Raimundo Ladislau e Campina Grande, se reuniram em uma solenidade que marca a abertura do primeiro evento presencial após dois anos apenas pela internet, devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19.
O secretário da Seafro, Joel Borges, destacou a transformação da secretaria extraordinária em fundação, através da Lei 2.560. A criação da nova entidade já foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE), no último dia 2 de abril. A contar da data de publicação, a extinção da Seafro e a implantação da Fundação Marabaixo deve acontecer no prazo de até 180 dias.
“A Fundação terá como missão a formulação e coordenação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial, valorizar a cultura negra, em todas suas peculiaridades. Tudo isso com autonomia administrativa e financeira. Sem dúvida, uma das maiores conquistas para a comunidade negra amapaense”, ponderou Borges.
Depois da solenidade de abertura, os cinco grupos presentes fizeram uma apresentação conjunta, chamada por eles de “marabaixão”. O encerramento do evento aconteceu ao som da banda Afro Brasil, que mistura o marabaixo a outros ritmos.
A programação nos barracões inicia no próximo sábado, 16 de abril e segue até o dia 19 de junho. O Governo do Estado garantiu R$ 180 mil para o Ciclo do Marabaixo 2022, valor que será dividido igualmente entre os grupos realizadores. A divisão do repasse é feita pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult).

Diferentes gerações de marabaixeiros se encontraram na abertura do Ciclo do Marabaixo de 2022. (Foto: Gabriel Penha/Seafro).