Na semana passada comentamos aqui que a engenharia brasileira havia virado suco e que a importância dessa ciência havia sido desprezada ou desconsiderada pelas autoridades encarregadas de cuidar das ciências no Brasil.
Aliás, se pode dizer que cuidar da ciência ou dos aspectos científicos de qualquer uma das especialidades se tornou o objeto principal da ignorância daqueles a quem a sociedade atribuiu a responsabilidade para distribuir a receita que resulta do esforço da população através do pagamento de tributos.
Os últimos fatos que comoveram a nação brasileira, todos eles, estão relacionados diretamente com a engenharia: rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, as mortes por deslizamento nas áreas urbanas, especialmente no Rio de Janeiro, e a morte dos 10 jovens, aspirantes a atleta, também no Rio de Janeiro. Esses de comoção nacional.
Mas pelo Brasil se estende uma imensa rede de “desastres” que poderiam ser evitados se houvesse aplicação da técnica de engenharia na solução dos problemas. O próprio Estado do Amapá foi e está sendo palco de prejuízos sociais e econômicos devido à falta de zelo ou ao despreparo das autoridades. Cite-se, como exemplo, a queda do porto da Icomi, em Santana, a queda da viga da ponte, no Rio Vila Nova, mas também as mortes (e não são poucas) decorrentes da falta de técnica ou acompanhamento para lidar com rede energizada de energia. Quantos sucumbiram em decorrência desses fatos?
As pessoas estão procurando explicações para cada um desses acontecimentos e estão chegando à conclusão que, em regra, em todos eles está faltando a utilização de técnica adequada e que existe no Brasil – e que poderia ser aplicada, mas não é. Simplesmente desconsiderada pela falta de costume ou exigência.
Tem-se a impressão que o descuido abriu um imenso espaço entre os profissionais formados antes de 1980, esta considerada a década perdida para a técnica brasileira e que deixou como herança o desinteresse pela ciência e o pouco caso pelos resultados, com os profissionais de antes não tendo para quem transmitir o conhecimento.
Os resultados, principalmente aqueles que precisariam de explicações técnicas, passaram a ser tratados como obra do acaso, com a forte introdução de dois títulos: “força maior” e/ou “caso fortuito”.
O império do “caso fortuito” e da “força maior” se estabilizou e passou a ser justificativa para o pouco caso e o desconhecimento técnico.
As providências tomadas foram para facilitar a titulação de novos engenheiros, bem como na facilitação da formação técnico/tecnológica ou na adaptação de outros profissionais para receber o título de engenheiro, como é o caso atual do engenheiro de segurança, que mesmo sem ser engenheiro, pode receber o título.
Foi assim que a engenharia virou suco, sem possibilidade de ser decomposto e os resultados estão por aí, através dos acontecimentos, como os de Mariana, Brumadinho, Rio de Janeiro, Macapá, Mazagão e tantos outros locais.
A banalização da engenharia desmoralizou os engenheiros, arriou os salários dos profissionais e levou ao desinteresse profissional, que ainda se sustenta na história e até mesmo os agentes dos Conselhos Regionais ou Nacional não se apercebem disso e não sabem mais o que fazer.