‘O Brasil não tem preço’, disse presidente brasileiro sobre doação do G7 para combate de incêndios.
Após um encontro com Jair Bolsonaro em Brasília na quarta-feira, dia 28, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, defendeu a soberania do Brasil sobre a Amazônia e afirmou que “cada país sabe qual colaboração quer receber e qual não quer receber”.
Piñera foi recebido por Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em uma reunião privada. Ele chegou a Brasília vindo da França, onde participou como convidado da reunião de cúpula do G7, que ofereceu uma ajuda de 20 milhões de dólares aos países amazônicos para o combate aos incêndios.
O chileno foi convocado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, para servir como mediador entre os sul-americanos que englobam a Amazônia e as sete grandes economias do mundo.
Em um pronunciamento à imprensa após a reunião com Bolsonaro, Piñera reforçou seu comprometimento com a soberania dos países da região e anunciou o envio de quatro aviões do Chile para ajudar a combater as queimadas.
A Amazônia “é um verdadeiro paraíso da biodiversidade e uma fábrica de oxigênio”, disse. “Mas os países amazônicos, que são nove, entre os quais o mais importante em tamanho é o Brasil, têm soberania sobre a Amazônia. Temos de reconhecer isso sempre”.
“O Chile está muito feliz de poder colaborar e de poder organizar a colaboração de outros países que também queiram ajudar, mas sempre respeitando a soberania do Brasil e o presidente do Brasil”, afirmou ainda.
No último dia da reunião do G7 em Biarritz, Macron deu a entender que considera a possibilidade de definir um “status internacional” para a Amazônia, caso os líderes da região tomem decisões prejudiciais ao planeta. Suas declarações enfureceram o governo brasileiro.
Questionado se considerava a ajuda de 20 milhões de dólares oferecida pelo G7 aos países amazônicos bem-vinda, Piñera afirmou que “cada país sabe qual colaboração quer receber e qual não quer receber”.
O Brasil recusou a proposta de doação oferecida pelo grupo. Na terça, Bolsonaro condicionou uma eventual análise da ajuda a um gesto do francês Emmanuel Macron para “retirar os insultos” que o brasileiro reputa a seu colega europeu.
Na última sexta-feira, Macron afirmou que Bolsonaro mentiu sobre seus compromissos com o meio ambiente e anunciou que, sob essas condições, a França se oporia ao tratado de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul.
A relação entre os dois piorou depois que o brasileiro comentou, em tom de deboche, a publicação de um seguidor que comparava a beleza da primeira-dama da França, Brigitte Macron, à de Michelle Bolsonaro. “Não humilha kkkkk”, escreveu o presidente.

“O Brasil não tem preço”
Ao lado de Piñera, Bolsonaro reforçou sua posição sobre a doação do G7 e voltou a dizer que só aceitaria o dinheiro caso Emmanuel Macron se retratasse.
O presidente voltou a criticar Macron e disse que o líder francês aproveitou “para se capitalizar perante o mundo como aquela pessoa única e exclusiva interessada em proteger o meio ambiente”.
“Essa bandeira não é dele, é nossa, é do Chile, é de muitos países do mundo”, disse. “O Brasil lamenta a péssima imagem que foi potencializada pelo senhor Macron, inverídica sobre a nossa Amazônia.”
Bolsonaro afirmou ainda que países europeus tentam “comprar” a soberania brasileira e que “o Brasil não tem preço”.
“Há pouco falei para vocês que a Alemanha e a França estavam comprando nossa soberania à prestação. Deixei bem claro isso aí e quando olham para o tamanho do Brasil, a oitava economia do mundo, parece que 20 milhões de dólares é o nosso preço. O Brasil não tem preço. Vinte milhões de dólares ou 20 trilhões é a mesma coisa para nós”, disse.
O chefe de Estado, contudo, sinalizou que não fechou as portas para o recebimento de recursos e disse que o Brasil está aberto a receber doações, desde que bilateralmente.

Encontro de países amazônicos
Durante a coletiva desta manhã, Bolsonaro também anunciou um encontro dos países amazônicos em Letícia, na Colômbia, para discutir uma “política única” sobre a preservação do meio ambiente e regras para exploração na região.
A reunião está prevista para ocorrer no dia 6 de setembro. O presidente não especificou quais países vão participar do encontro, mas deixou claro que a Venezuela não foi convidada.