Réu por tráfico internacional de entorpecentes, o sargento Manoel Silva Rodrigues transportava substância que valia 6,3 milhões de reais.
No dia 24 de junho de 2019, o sargento Manoel Silva Rodrigues embarcou junto com uma comitiva presidencial em Brasília na aeronave VC-2 da Força Aérea Brasileira com destino a Sevilha, Espanha. Naquele dia, ele se apresentou antes da tripulação e entrou no avião junto com as comissárias, sem pesar sua mala de mão, mochila e uma bolsa utilizada para o transporte da sua farda. Já a bordo, o militar chamou a atenção de seus colegas porque posicionou sua bagagem na última poltrona, onde permaneceu durante toda a viagem, como se estivesse protegendo o material. Ao chegar no dia seguinte em seu destino final, Silva Rodrigues passou pelo procedimento de imigração e, ao ser submetido ao aparelho de raio-x do aeroporto, foi flagrado com 37 quilos de cocaína. O episódio virou um escândalo – e tisnou a imagem do Brasil no exterior. Seis meses depois do ocorrido, o sargento virou réu por tráfico internacional de entorpecentes.
“O denunciado, consciente e voluntariamente, transportou e exportou o montante total aproximado de 37 kg (trinta e sete quilogramas) de substância entorpecente conhecida como cocaína, sem autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar, vindo a desembarcar com aquele estupefaciente na cidade espanhola de Sevilha em 25 de junho de 2019, conduta tipificada como tráfico internacional de Drogas”, diz trecho da denúncia apresentada pelo promotor Jorge Augusto Caetano de Farias, em 19 de dezembro de 2019.
A acusação, acolhida em 8 de janeiro pelo juiz Frederico Magno de Melo Veras, da Justiça Militar, baseou-se em depoimentos de testemunhas e em relatórios de perícia que atestaram a posse da substância entorpecente. Apesar da conclusão do caso, há uma série de dúvidas que ainda precisam ser esclarecidas. Uma delas é quem estaria por trás dessa ação criminosa. De acordo com laudos produzidos pelas autoridades espanholas, o valor de mercado da droga apreendida correspondia a 1,4 milhão de euros (6,3 milhões de reais, em valores da época). O volume chamou a atenção dos investigadores. Ao ser questionado no ato da prisão em flagrante, o sargento ficou em silêncio. E assim permaneceu ao longo de toda apuração dos fatos, recusando-se a prestar qualquer tipo de esclarecimento.
O Ministério Público Militar e a Polícia Federal iniciaram uma devassa na vida do sargento. Os investigadores analisaram as suas movimentações financeiras, a sua rede de contatos e ouviram diversas testemunhas que tinham contato com o militar. Até o momento, não foi descoberto quem estaria por trás do crime. Os investigadores apuram se Silva Rodrigues iria se encontrar com outra pessoa na Espanha. Por isso, solicitaram às autoridades espanholas o acesso ao conteúdo do aparelho telefônico do réu. Mas esse material ainda não foi liberado. Enquanto isso, a PF segue as pistas de uma quadrilha de traficantes, com atuação em diversos países, se teria envolvimento com o caso. O advogado Marcelo Mattos Pontual Pinheiro, que defende Rodrigues Silva, nega as acusações. “Vamos provar na Justiça que não houve crime”, afirma.