Rodolfo Juarez
Uma das mais importantes atrações do calendário turístico do Amapá e de outros estados brasileiros, como Pernambuco e Paraíba, está fortemente afetada pela declaração de pandemia feita pela Organização Mundial de Saúde, e pelos decretos federais, estaduais e municipais que proíbem as aglomerações.
No Amapá, especialmente, a organização e até mesmo o autofinanciamento havia se consolidado, desde quando os grupos folclóricos, voltados para a quadra junina, desde algum tempo resolveram se organizar administrativamente e criaram condições para, independente de verbas públicas, realizarem eventos cada vez de melhor qualidade durante a quadra.
O balé dos grupos, construídos com técnica, fantasias de gala, disciplina e muita transpiração conquistou o público que continua crescente por entender a forma pura como os temas são desenvolvidos, além da qualidade natural e específica e da simplicidade no jeito de mostrar ao público a mensagem derivada de cada apresentação de cada um dos grupos folclóricos.
A quadra junina no Amapá se estende desde março, logo depois do carnaval, com os primeiros ensaios, e vai até julho com as decisões das competições que, ao final definem quais grupos são os campeões do ano.
Este enredo, que parece repetitivo, para cada grupo é uma criação inédita que reflete o momento da música, do comportamento social e da organização proposta para a educação e as demais fatias que formam a qualidade de vida da população, em regra muito carente de espetáculos do tipo apresentado durante a quadra junina, pelas diversas organizações teatrais, que são os grupos folclóricos.
Esse espetáculo cresceu ao ponto de, organizadamente, cumprir um regulamento pré-estabelecido pelos grupos que têm sede nos municípios do estado, que não o da Capital. As fases preliminares, em regra eliminatórias, começam nesses núcleos sociais, com os classificados chegando à reta final que é disputada em Macapá.
Este ano o público não vai ver as princesas flutuando nos organizados “terreiros”, nem conhecerá os príncipes que, como em um balé clássico, cortejam as princesas num bailado moderno sem a obrigação de estar seguindo os passos do tradicional forró brasileiro e nem por isso, deixa de se constituir em um dos mais importantes momentos da moderna cultura amapaense.
Este ano todos nós estamos sem esse espetáculo que nos deixa reflexivo sobre a criatividade e a imposição da inocência. Até mesmo aqueles que permaneciam enraizados e teimosamente insistindo que os grupos juninos precisam ser tradicionais, se renderam ao conjunto do espetáculo.
A proibição da aglomeração de pessoas e a ordem para que todos ficassem em casa impediram que a manifestação deste ano fosse realizada, muito embora já esteja consolidado o compromisso para que, em 2021, o espetáculo esteja de volta com todo o brilho que sempre marcou as apresentações de cada grupo.
Por enquanto resta a cada um de nós aplaudirmos esses criativos artistas do bailado, do comprometimento, das espetaculares surpresas e do uso do costumeiro visual através do brilho e do corte de cada uma das roupas: do marcador, do príncipe e da princesa, e dos pares que empolgam a plateia e valorizam o grupo.
Os pequenos empreendedores que sempre povoaram as proximidades dos eventos juninos e sempre têm a quadra como uma fonte de renda para o sustento seu e de seus familiares, não contaram com essa renda e estão sentindo que faz falta para as famílias.
Vamos esperar 2021 com esperança de que o vírus chinês tenha sido vencido.