Por Fernando França

Nos últimos dias, a imprensa nacional e local vem dando ampla publicidade a multa milionária imposta pela Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel) à empresa responsável pela subestação de energia onde se originou o apagão que, em novembro do ano passado, deixou em completa escuridão 15 dos 16 municípios amapaenses, criando um transtorno público nunca visto na história recente do Amapá e que mudou os rumos da eleição para prefeitura da capital. A multa foi de R$ 3,67 milhões, o que representa apenas 3,54% da receita operacional líquida da empresa Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), pertencente a uma empresa estrangeira chamada Gemini Energy. Três milhões de reais é uma mixaria para uma empresa desse porte.

Na época, a empresa disse que o incêndio gerador do apagão foi causado por um raio, e chovia muito naquela noite. O álibi perfeito da empresa, e um prato cheio para os adversários políticos do então candidato a prefeito Josiel Alcolumbre, que liderava a corrida eleitoral em todas as pesquisas de intenção de votos, inclusive, com chances reais de eleger-se no primeiro turno. Josiel foi responsabilizado por seus adversários pelo blecaute e cumpriu o seu calvário eleitoral, enquanto um deles, o então deputado estadual e candidato a prefeito, Antônio Furlan, membro da comissão de energia da Assembleia Legislativa amapaense, responsável por fiscalizações no setor, saiu ileso e elegeu-se prefeito com o apoio dos demais candidatos.

O que aconteceu a partir daquela noite mudou a configuração daquela eleição, por sinal, municipal de Macapá, uma das mais loucas em toda a história da democracia local, e me lembrou a célebre frase do ministro da propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels: “Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. E como ironia, as mentiras que relacionaram Alcolumbre ao apagão foram ditas mais de mil vezes por políticos ligados ao campo ideológico de esquerda, a quem caberia sempre dizer a verdade. Até uma frase do senador Davi, usada fora do contexto original do qual foi dita, foi replicada repetidas vezes com o intuito de barrar o avanço da candidatura de Josiel. Vale dizer aqui, que o Davi, usando o peso do cargo de presidente do Congresso Nacional, foi quem realmente resolveu a problema.

Hoje, a verdade está vindo a tona. O relatório da Aneel aponta que o histórico blecaute foi ocasionado por falta de manutenção da estação que operava sem o transformador reserva de energia, não possuía sistema de combate a incêndios, além de “falhas referentes às manutenções e conservações dos transformadores”. A escuridão passou, a empresa responsável foi multada, as mentiras cessaram, mas as cicatrizes permanecerão na memória do Amapá.