Rodolfo Juarez
Meu pai, Heráclito Juarez Filho, nasceu no dia 7 de outubro de 1922, por isso, hoje, dia 7 de outubro de 2022, marca o centenário de nascimento dele que, como ribeirinho da Amazônia e navegador dos rios afluentes e furos separando ilhas n/a região, criou 12 filhos, o primeiro nascido quando ia completar 24 anos, depois, durante outros 22 anos, acompanhou o nascimento de mais 11 filhos completando 12, sendo 9 do sexo masculino e 3 do sexo feminino.
Meu pai era um autodidata. Mesmo morando no interior, desenvolveu habilidade para o comércio de secos e molhados e o serviço de transporte de mercadoria para terceiros e para ele mesmo.
Antes, quando não atuava com serviço de transporte, concentrou as suas atividades comerciais no “aviamento” de fornecedores de látex, borracha, sernambi, castanha, pracaxi, ucuúba etc., fornecendo a mercadoria que era paga com os produtos da floresta. Foram 7 anos de intensos negócios.
A mercadoria acumulada era vendida em Macapá, para o senhor Izaac Menaem Alcolumbre, e em Belém, para a Parabor, empresa credenciada para a compra dos produtos da seringueira. Em Belém comprava o sal, o açúcar, inclusive o açúcar moreno, arroz, feijão, biscoito, remédio, papel, cartilha do ABC, Tabuada, lápis e tudo o mais que fosse de uso da casa e dos fregueses.
Meu pai, apesar de morar no interior e viajar em embarcações de madeira, primeiro a vela e depois motorizados, era um contumaz leitor de livros, revistas e jornais. O meu primeiro contato com livros de romance ou de história, foi com o papai, lendo Don Casmurro, de Machado de Assis, Pearl Harbor, marco da segunda guerra mundial, em uma biblioteca de mais de 100 livros em plena floresta. Meu pai recebia no mínimo dois livros a cada quinzena.
As revistas mais frequentemente chegadas na casa onde morávamos era a Cruzeiro, Manchete e a Fatos e Fotos. Os jornais: Folha do Norte e Vespertina.
Com 30 anos o meu pai veio para a sede do município de Afuá porque eu precisava entrar no ensino regular, foi por esse tempo que deixou o comércio e se concentrou no serviço de transporte de carga para terceiros. Evoluiu e se dedicou aos serviços prestados, transportando mercadoria durante a década de 60 e os primeiros anos da década de 70.
Em 1970, abriu um comercio para venda prioritária de “molhados” (café em grão, manteiga, açúcar, arroz, feijão, Leite Ninho, tabaco em mole etc.). O comercio funcionava na esquina da Avenida Coaracy Nunes com a Rua São José. Ficou aberto até meados de 1973.
As cartas do meu pai para cada um dos filhos (ele tinha uma caligrafia inigualável, pelo menos por nós, os filhos) e aproveitava a mensagem escrita para demonstrar o seu sentimento de amor por cada um de nós.
Meu pai morreu aos 51 anos, 1 mês e 25 dias, no dia 3 de dezembro de 1973. Foi um daqueles ribeirinhos exemplares no trato do meio ambiente, das pessoas e dos negócios. Ativo militante político tinha como referência Carlos Lacerda, no rio de Janeiro; General Assunção, no Estado Pará; e Jânio Quadros durante a campanha e quando presidiu o Brasil durante 7 meses.