Em entrevista ao Jornal O Globo, Clécio falou da frente ampla que o elegeu e mostrou seu descontentamento com o IBAMA.
Filiado ao Solidariedade e aliado de Lula, o governador do Amapá, Clécio Luís, diz que emendas são essenciais para o estado e defende que COP-30 tenha olhar ‘menos romântico’ para a região. Ele também comenta o apoio do PL, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, a sua candidatura, critica a polarização do cenário político atual, e sugere que o governo dê mais espaço aos partidos de centro-direita como forma de negociar com o Congresso.
O senhor venceu a eleição com uma ampla aliança de partidos, incluindo o PL. Como é possível ser aliado do governo Lula dessa forma?
Nós somos isolados das relações partidárias. Não estou negligenciando a importância dos partidos, mas garanto que um quadro orgânico do União Brasil em São Paulo, do PCdoB em Brasília, do PSOL ou do PT em São Paulo, sobretudo nas capitais, é bem diferente de um filiado do União Brasil ou do próprio PSOL, ou da Rede, ou de outro partido qualquer, no Amapá. Essa não é a relação preponderante. São as relações de conhecimento, culturais, e os interesses locais, sem sombra de dúvida.
Como avalia o aumento de emendas parlamentares em detrimento do Orçamento livre para o governo federal investir?
Foi o que salvou o Amapá nos últimos cinco anos. Municípios do estado e da Amazônia vivem uma realidade diferente hoje porque estão acessando uma parte mais importante de recursos que antes não conseguíamos. O planejamento do governo federal é feito pensando no Sudeste, no Sul e em partes do Centro-Oeste e do Nordeste. Nunca foi pensando na Amazônia, que é retórica, discurso. Se pegar os municípios do Amapá e vir a quantidade de obras e investimentos até 2018 e a partir de 2019, são outros municípios. Estão completamente transformados.
A oposição vem ganhando espaço no Congresso, e o PL planeja aumentar o número de prefeituras em outubro e conseguir uma bancada ainda maior no Congresso daqui a dois anos. Qual a saída para o presidente Lula? Fazer mais concessões e dar mais espaço aos partidos de centro-direita?
Quem sou eu para dizer o que o presidente Lula deve fazer? Mas, observando nossa experiência, humildemente, eu diria que talvez esse seja o caminho para o Brasil. A polarização me incomoda muito. O Brasil precisa construir mais consensos.
O governo parece ter perdido o controle da pauta no Congresso, que vem dando espaço à agenda de costumes. Qual é a melhor estratégia para o Planalto?
Essas pautas de costumes são, na maioria das vezes, para tirar proveito eleitoral. Elas não constroem nada, mas o governo não pode sucumbir. Não estou dizendo que tem de abrir mão, fugir do debate, nada disso. É preciso governar para indicar o que é pauta importante e não o que é perfumaria. Mas acho que o governo tem conseguido dialogar com o Senado e a Câmara.
O presidente Lula tem defendido a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Qual é a perspectiva para o estado?
Estamos apostando todas as fichas nessa nova matriz econômica e na possibilidade de termos um novo modelo de desenvolvimento. Temos os piores indicadores de saneamento básico e no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e, até pouco tempo atrás, os piores em geração de emprego. A gente tem 20% da população de Macapá morando em favelas. O petróleo representa uma nova chance de termos uma atividade econômica forte e que possa financiar a manutenção dos nossos indicadores ambientais e o desenvolvimento em várias áreas.
Permitir a exploração da margem equatorial vai na contramão da preservação? O Ibama avalia se a intervenção pode afetar a vida marinha.
Eu estou subordinado à ciência e à pesquisa. A decisão que saiu do Ibama nos proibiu o elementar: o direito a pesquisar a nossa costa. Por isso eu insisto. Quero poder produzir petróleo, mas não significa que eu queira de qualquer jeito. Eu sou daqueles que se subordinam aos resultados de pesquisa. Mas há um outro extremo, que é a gente acabar dobrando os joelhos para aquele discurso protecionista que só vê floresta, uma biologia natural sem a presença humana. Quem disse que nós queremos ser santuário de alguma coisa? Queremos ter direito a viver com dignidade.
O senhor vê uma contradição dentro do governo Lula nesse tema, principalmente entre o presidente e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva?
Não vou pessoalizar. Mas existe uma contradição estrutural. Foi o Estado brasileiro que fez as pesquisas sobre essa área e lançou os leilões. Esse mesmo Estado brasileiro não consegue garantir segurança jurídica e ambiental para o leilão. Não podemos sair da COP-30 (em Belém, em 2025) com apenas um olhar romântico sobre a Amazônia. Isso é terrível, a COP se transformar numa grande feira de venda de souvenir de produtos indígenas, ribeirinhos. Não pode ser só isso.