Foi na sexta-feira, 6/12, que Mescouto faleceu aos 90 anos de idade, dos quais 53 dedicou ao desenvolvimento do Amapá.
Sempre que um veterano profissional morre se observa que está difícil a substituição à altura.
Pois bem, a história se repete agora quando se anuncia o falecimento de Hercílio da Luz Mescouto, engenheiro civil, urbanista participante e crítico, conhecimento alargado pelo trabalho.
Morreu preocupado, como dizia, pela injustiça que se perpetra em desfavor de um profissional dedicado à causa e exemplar: Joaquim de Vilhena Neto. Sempre que tinha oportunidade dizia que não havia, em todo o Brasil e no Mundo, quem conhecesse todos os pontos e todas as dificuldades da BR-156.
Isso demonstra o senso de respeito que tinha pelos colegas e pela profissão que abraçou. Se foi como todos irão, mas deixou saudades aos familiares e amigos, e resultado para a população do estado.
Os registros a seguir, têm como fonte uma edição do Jornal Tribuna Amapaense de 2017, coluna que cuidava dos pioneiros. De lá foi resgatado o que segue, inclusive a foto:
Hercílio da Luz Mescouto nasceu no município paraense de Bragança, no dia 4 de abril de 1934.
Sexto filho de uma família de 8 irmãos. José Maria (Zeca), Gumercindo (Jupira), Beatriz (Itize), Ângela (Gila), Raimundo (Biro), Mescouto (Mizio), Nazaré (Nazi) e Terezinha (Tilita). Mizio o apelido de casa famoso na roda dos amigos e familiares de Misio.
“Ah…Não sei por que do apelido. Porém em casa todos tínhamos um pseudônimo. Era uma forma carinhosa de nos tratarmos. O pai, Joaquim Diniz Mescouto, contador da Prefeitura bragantina era o Quincas. Almerinda da Luz Mescouto, a mãe, era a Belinda”
“Nossa! Minha mãe era famosa pelas Pantufas. Sandálias de corda de envira que ela fazia com uma habilidade divina. Mescouto homenageou a mãe com uma crônica “As Pantufas da Belinda” eram mimos”.
“Sabia que meu pai quando foi pra Belém conseguiu trabalho graças à indicação do governador acreano? Ele atendeu um pedido da sua esposa que adquirira uma Pantufa da Belinda e ficou apaixonada ao ponto de fazer o apelo ao esposo.”
Mescouto completou 90 anos no dia 4 de abril de 2024, mantendo a silhueta esguia. Chegou a fazer planos para mudar de Macapá com toda a família para o Rio de Janeiro.
Chegou a desejar voltar para Bragança.
Com um olhar profundo, como que retornando ao seu tempo de “petiz”, Mescouto fala de sua infância. “Estudei no Grupo Escolar de Bragança. Lá fiz dois anos da escola primária. No dia 11 de junho de 1945 meus irmãos José Maria (Zeca) e Gumercindo (Jupira) foram para Belém servir à Aeronáutica. Papai também foi transferido para Belém e aí fui junto. Em Belém concluí meu curso primário. Estudei na Escola Reunida Raimundo Espíndola e no Grupo Escolar Dr. Freitas. Em 1949 entrei no Colégio Paes de Carvalho, fiz dois anos do Ginásio, como precisava trabalhar mudei para o turno da noite e fui estudar na Escola Abraão Levi, onde completou o ginasial. Com 20 anos ingressei na Aeronáutica. Lá passei três anos na função de Almoxarife, onde fiz curso para a função. Ao sair da Aeronáutica ingressei na Petrobrás como chefe do almoxarifado. Foram 5 anos de uma experiência riquíssima. Naquele tempo os “vermelhinhos” queriam já se organizar para comandar a empresa, mas não deixamos, o princípio nacionalista trazido das forças armadas falava mais alto”.
“Saí da Petrobrás porque passei no vestibular para a Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Pará”.
“Começa aí minha história com o Amapá. Formei, lembro bem, no dia 19 de dezembro de 1970. Ano que ficou marcado pela conquista do tri-campeonato de futebol pelo selecionado brasileiro. No dia 13 de maio de 1971 cheguei ao Amapá. Recebi um convite do engenheiro Clark Charles Platon para assumir o canteiro de obras da Platon Engenharia. No Amapá obras aconteciam em todos os cantos.”
“Mescouto, aliás, o engenheiro Mescouto, comandou a construção do Quartel Plácido de Castro da Polícia Militar, do Pronto Socorro de Macapá, o 3º Pavimento do Hospital Geral de Macapá, do 3º Pavimento do Instituto Nacional de Seguridade Social, 12 casas do Banco do Brasil etc. No dia 1º de fevereiro de 1974 entrei no governo do Território Federal do Amapá. Fui convidado por um ilustre engenheiro, Joaquim de Vilhena Neto. Esquecido pelo Amapá. Joaquim de Vilhena, diz Mescouto, cuidava da BR 156. Ele guardava na sua gaveta, com todo zelo, o projeto da BR e sabia ponto a ponto daquela Rodovia. Mas é assim, as pessoas são ingratas com a história de alguns”.
Mescouto que foi um bom peladeiro nos campos paraenses, chegando a formar nas equipes do Águia e Olaria, lembra que no ano que entrou no governo do Território Federal do Amapá, o Brasil perdia a Copa de 1974 amargando um quarto lugar. Perdeu para a Polônia por 1 x 0, gol de Lato”.
“Joguei futebol, sempre adorei o esporte”. Afirma que não podia seguir carreira profissional, pois tinha que trabalhar e estudar. Futebol era apenas uma diversão.
Família
Tive dois casamentos. Conheci minha primeira esposa no dia 11 de setembro de 1957, dia em que entrei na Petrobrás. Casei-me no dia 17 de outubro de 1958. Tive cinco filhos desse matrimônio. Marco Antônio, Denise, Maurício, Marcelo e Márcio. Casamento é bom até quando estamos felizes. Cuidei dos meus filhos, possibilitei a todos estudarem. Todos estão bem, graças a Deus. Dificuldades todos passam, é normal. Terminado essa relação conheci uma moça amapaense, Delma e com ela me casei em 21 de agosto de 2012. Mas já tínhamos uma relação estável antes de oficializarmos essa relação. Com a Delma tenho duas filhas. Caroline e Natália. Sou feliz.
Amapá
Sinto-me satisfeito em ter dado minha contribuição para o desenvolvimento do Amapá, mas ao mesmo tempo lamento por não ter tido a oportunidade de fazer tudo aquilo que eu poderia fazer pelo Amapá. E se não fiz, com certeza foram as oportunidades tungadas por questões políticas.
Creio que a política não pode ser mais da forma como está. Espero que todos esses acontecimentos das sucessivas operações que combatem a corrupção no País sejam pedagógicas para que os políticos mudem seus conceitos e o povo também tenha consciência da necessidade de mudança.
Planos
Em 2017 chegou a expressar a vontade de mudar de ares. “Estou indo para o Rio de Janeiro acompanhar minha filha, mas não vou cortar o cordão umbilical com o Amapá, afinal tenho filhos, netos e bisnetos amapaenses. De lá vou estar vigilante com as coisas que estiverem acontecendo no Amapá. O Amapá é um lugar especial para se viver, mas infelizmente depois da transformação em Estado passou a imitar o resto do Brasil com as mazelas políticas, mas somos um Estado jovem e com uma sociedade em formação, ainda dá tempo de escrever uma história diferente por aqui”.