Eles saíram dos mais variados setores da sociedade. Deixaram projetos pessoais, engajaram-se em uma luta pela transformação do País e estão dando exemplo de como não se lambuzar na manteiga rançosa dos acordos espúrios para atingir seus objetivos.
São tantas e tão antigas as mazelas na política brasileira, são tantas e tão antigas as razões para não se acreditar naqueles que desempenham funções públicas, que muitas vezes torna-se difícil perceber que ainda há pessoas na estrutura do Poder comprometidas com a sociedade e o desenvolvimento da Nação.
É como se essas pessoas estivessem imbuídas da célebre fala do ex-presidente dos EUA John Kennedy, no dia de sua posse, em 1961: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você; pergunte o que você pode fazer por seu país”.
O grupo de brasileiros em questão tomou para si a segunda parte dessa frase. Ministros, parlamentares, presidentes de instituições financeiras, militares e magistrados, todos com sucesso em suas atividades profissionais, poderiam estar em seus cantos tocando a vida particular — e na maior calmaria.
Eles preferiram, no entanto, cuidar do Brasil com foco nas mais diversas áreas que competem à administração pública.
Os personagens mais visíveis desse enredo são o ministro da Economia Paulo Guedes, o presidente do Senado Davi Alcolumbre, o presidente da Câmara Rodrigo Maia, o ministro da Secretaria de Governo, general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz, o assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional, general Eduardo Vilas Boas, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro e o presidente do STF, ministro Dias Tófoli.
Ainda como figuras dessa nova era política se pode destacar a atuação da deputada federal Tabata Amaral e do deputado Kim Kataguiri, e ainda do ministro da Desestatização, Salim Mattar, e do presidente do BNDES, Joaquim Levy.
Guedes, Davi e Maia.
Quem não lembra de Guedes, na Câmara dos Deputados, em sua primeira defesa da imprescindível Reforma da Previdência? Sem que o Poder Executivo tivesse construído uma base parlamentar para apoiá-lo, ele se virou sozinho, foi ofendido pessoalmente em sua masculinidade pelo deputado Zeca Dirceu e respondeu à altura – fala alta e dedo em riste.
Davi Alcolumbre, dizem a seu respeito: quando alguém o procura para intrigar outra pessoa, ele olha o interlocutor com jeito de quem presta muita atenção, mas, na verdade, está com o pensamento em outro lugar: nas reformas econômicas e em eventuais pautas desestruturantes e descabidas, como a bomba que veio na semana passada e que ele publicamente desativou. A Câmara aprovou a MP alterando o Código Florestal e amenizando o dever de proprietários rurais em recuperarem áreas ambientais desmatadas. Alcolumbre antecipou que o Senado derrubaria a MP ou a deixaria caducar, como aconteceu dia 3 de junho quando aquela MP perdeu a eficácia.
Rodrigo Maia, que é o deputado federal que primeiro desembarca em Brasília todas as segundas-feiras e o último que decola quando a semana acaba, passou na comissão como quem não quer nada, mas sendo que, na verdade, queria tudo — tudo que significasse respeito com Guedes. Já era madrugada e Maia saíra da última das dezesseis reuniões que faz diariamente. Seus pares entenderam Maia, sem que abrisse a boca. “Se Maia não estivesse pensando no Brasil, já teria chutado o balde”, diz um deputado.
O ministro que ocupa a Secretaria do Governo, general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz, é o “idealtipo” weberiano da diferenciação entre o patriotismo atual e a anacrônica exaltação do País por meio do nacionalismo. Uma de suas frases dá a dimensão de seu caráter e emoção: “a gente nunca se acostuma com o sofrimento humano”.
Villas Bôas é assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional, ocupado pelo general Augusto Heleno. Quando tem de criticar duramente alguns atos do presidente Jair Bolsonaro, o general não se intimida se estiverem em jogo valores democráticos. Já foi defendido de ataques ideológicos pelo senador Omar Aziz, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Com a não ideologização e dando esperança aos brasileiros de que o diálogo e o comprometimento com o País vencerão a burrice dos extremismos, atuam o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (sua biografia na Lava-Jato, lutando contra a corrupção, diz tudo), e o presidente do STF, Dias Toffoli.
Aos maus analistas, eles parecem submissos ou, às vezes, afoitos; para os que se preocupam mesmo com a temperatura no termômetro político do Brasil, ambos são conhecidos em Brasília pela conduta de sempre tentarem conciliar posições contrárias — além de trabalharem quinze horas por dias. Toffoli retirou da pauta do STF a questão da execução da pena em segunda instância para não conturbar ainda mais a Torre de Babel na qual se transformou a sociedade brasileira.
Tabata, Kim e Joaquim Nabuco
Calejado com os “podres Poderes”, é mais que natural que o chamado homem comum muitas vezes deixe de confiar no homem político. Ser contrário à prática da política como um todo, sem separar o joio do trigo, é, no entanto, abrir caminho para o autoritarismo.
Dois jovens deputados federais de primeira viagem, Tabata Amaral e Kim Kataguiri, trabalham praticamente em parceria para que os brasileiros voltem a crer na política como a única saída democrática para nossos problemas.
Ela se define como centro-esquerda, ele se diz de direita. Ela batalha pela educação e arrasou em debates com dois ministros, o defenestrado Ricardo Vélez e o atual, Abraham Weintraub.
Kim respira economia liberal e esse é o seu campo de atuação.
Um dos principais pensadores brasileiros, Joaquim Nabuco é autor do clássico ensaio intitulado “Profissão de fé política” (1868). É como se Tabata, Kim e os demais patriotas o seguissem no seguinte ponto: o diálogo e a responsável prática política são as salvaguardas da democracia e a estrada para o desenvolvimento econômico do Brasil.