Rodolfo Juarez
Desta vez pelo menos algumas autoridades sediadas no Estado mostraram preocupação com o que vem acontecendo com a navegação fluvial nos rios da Amazônia, e especialmente com o que aconteceu ao amanhecer do dia 29 de fevereiro deste ano, quando o B/M Anna Karoline III naufragou encerrando a vida de muitos amazônidas que simplesmente precisavam se deslocar de Macapá e Santana para algumas das cidades do interior do Pará, deixando famílias enlutadas e muito tristes.
Uma tristeza que aumenta quando se olha pelos caminhos da história recente do sacrifício de vidas em outros naufrágios, tão importantes como o que agora serve de referência para as autoridades que podem mudar essa linha de registros macabros em que se transformou a navegação, especialmente na região do Jari.
A participação da Procuradoria da República no Amapá, através de seus agentes públicos é a boa novidade entre aqueles dos municípios e do estado, que já conhecem o sofrimento dos passageiros que a cada viagem arriscam a vida, não só pelos acidentes, mas também, pela incerteza da chegada, por motivos como assalto praticados pelos ratos d’água, ou quebra de motor.
A precária comunicação no trecho da viagem e a completa falta de alternativa em caso de acidente, transforma cada viagem em uma verdadeira aventura, mesmo se entendendo que uma viagem de barco é muito saudável, infelizmente não é segura.
A fiscalização, todas elas, são muito falhas. Desde a simples conferência de uma lista com o nome dos passageiros, até as condições de navegabilidade da embarcação deixam a certeza de que nada está certo.
Dentro da embarcação não se identifica quem é o responsável pela viagem, pelo roteiro e pelos passageiros. Há um descontrole completo, sendo o que interessa é levar a embarcação de um ponto ao outro, pouco se importando com regras, desde as mais simples, até aquelas definidas na regra básica dos direitos humanos, como alimentação e segurança.
Aliás, a insegurança começa desde o embarque, sempre em portos improvisados e liberados para prestar o serviço pelos órgãos da Marinha do Brasil, se valendo da forma precária e eventual que se transforma, de forma irresponsável, em permanente. E tudo fica por isso mesmo.
Durante a viagem não é dada qualquer informação e prestada qualquer orientação para os passageiros que, muitas vezes, se trancam nos camarotes sem perceber que ali estão selando uma urna mortuária.
Também não há respeito ao tempo máximo que uma pessoa tem para permanecer em condições de comandar uma embarcação com passageiros. Continua na cabine de comando, com o leme na mão, até o cansaço dominar o seu corpo e, nesse momento, ser substituída por uma pessoa que não tem habilitação e para comandar no momento mais crítico da viagem – durante a noite.
Até agora há apenas os passageiros e os tripulantes para fazer a vigem. Não há o restante: embarcação confiável, fiscalização eficiente, terminal de cargas e passageiros adequado, orientação para a navegação fluvial, rotas definidas, local de parada obrigatória, assistência em caso de doença dentro da embarcação, comunicação, embarcação de socorro em casos de acidentes ou defeitos na embarcação e tudo o que, por exemplo, o transporte aéreo exige na sua logística.
Por que não?
As pessoas que viajam pelas hidrovias precisam dos mesmos cuidados que são oferecidos àquelas que viajam de avião. O tratamento é como se essas pessoas fossem de outra categoria. Tudo errado!