Rodolfo Juarez
Confesso para todos os meus leitores:
– Tenho saudades da Semana da Pátria no formato de quando o Amapá era um Território Federal.
Com muito menos alunos nas escolas públicas e particulares, os estudantes dominavam a semana, limitada pelos dias 5 (Dia da Raça) e dia 13 (Aniversário do Território), com as comemorações da Independência do Brasil no meio.
Momentos em que os alunos expressavam as suas ansiedades por votar, por se emancipar da tutela da União, por ter o direito de eleger os seus presidentes, governadores, prefeitos, senadores, mais deputados federais, deputados estaduais e vereadores para as câmaras municipais.
Houve um tempo em que o clamor dos estudantes era que o Território Federal virasse um Estado da Federação, o que só veio ocorrer com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Mas o clamor dos estudantes era tão importante e forte que convencia os governadores nomeados de que o caminho para o futuro era aquele e muitos deles, de maneira aberta, chegaram a incentivar os pedidos dos estudantes que, agora adultos, veem os seus sonhos registrados em fotos que mostram carros alegóricos com a mensagem pedindo a Transformação em Estado.
As conquistas foram paulatinas: primeiro elegendo dois deputados federais (a legislação só permitia 1), depois dois, mais adiante 4 constituintes, e finalmente os 8 que vieram com autorização constitucional em 1988.
O mesmo aconteceu com relação à eleição para prefeito. A primeira só aconteceu em 1985, com a posse em 1986 para um mandato de 3 anos. Já havia a decisão de que o próximo mandato seria de 4 anos.
Também a eleição para governador do Estado, a primeira em 1990, com a posse em 1991, para cumprir um mandato de 4 anos. Naquele tempo ainda não era permitida a reeleição.
Em 1990 também foram eleitos os 3 primeiros senadores, uma bancada de 8 deputados federais e outra de 24 deputados estaduais.
Essas conquistas, por mais que se negue, foram bandeiras dos estudantes amapaenses que, com responsabilidade mostravam essas pretensões nos desfiles da semana da pátria.
Os alunos também declaravam, durante os desfiles, os seus sonhos, os seus pesadelos e tornavam o acontecimento um ato social de grande relevância, o maior relacionado à política e à sociedade.
Nem por isso a descoberta de bons técnicos ficou prejudicada, ao contrário, os alunos das escolas públicas, as mesmas que tinham a primazia de apresentar os seus sonhos na avenida, conquistavam lugares de destaque nas universidades onde prestavam exames como nas universidades do Rio, de Belo Horizonte e, principalmente, de Belém do Pará.
Sinto falta disso nos estudantes de agora. Do arrojo, dos sonhos e das conquistas.
Não sei se os culpados fomos nós, por não conseguir deixar a centelha da busca por melhorias educacionais e sociais acesa.
Sinto falta do entusiasmo e do protagonismo dos estudantes, que parecem conformados com o que lhe oferecem e logo em um momento de eleição. Sinto falta da confiança e da responsabilidade que todos demonstravam pelo processo e, especialmente, pela melhoria desse processo.
Não pode ser o sinal dos tempos.