Já faz algum tempo que os observadores da vida cotidiana, de certa forma, esperavam por esse momento. O momento em que se sentiria falta do sistema de drenagem pluvial de Macapá, como de resto, de todo o sistema infraestrutural da cidade que precisa ficar enterrado e, assim, não ser visto pela população.

Macapá, desde os seus primórdios, tem em seu perímetro urbano uma definição perfeita do sistema de drenagem, traçado pela natureza e a serviço do bem-estar daqueles que moraram e moram em Macapá.

Um sistema que funcionou natural e harmonicamente em favor do bem-estar da cidade, que ainda contava com uma lagoa de dimensões suficientes para entrar em ação em caso de necessidade da parte mais interior da cidade.

A população cresceu, e foram poucos os administradores que investiram tempo e dinheiro no acompanhamento das necessidades da infraestrutura da cidade.

Agora, já com quase 600 mil habitantes, o tempo que passou se apresenta como tempo perdido. Todo o sistema de infraestrutura da cidade está com sua disponibilidade muito para trás: esgoto, com 5% de disponibilidade; água tratada, com menos de 50% para atendimento; macro e micro drenagem pluvial, em poucos pontos da cidade; canais de drenagem, apenas dois prontos (da Avenida Mendonça Júnior e do Igarapé das Mulheres), ruas e avenidas, a maioria sem meio-fio, linha d’água e bueiros, estes com dificuldade e os outros porque não existe a linha de coleta da drenagem.

Assim, observa-se que todo o sistema de drenagem está prejudicado e, mesmo em uma cidade cheia de canais, com uma lagoa como a Lagoa dos Índios – e um rio como o Rio Amazonas, fica sujeita a retenção de água da chuva, todas as vezes que a chuva cai com mais intensidade.

O pior de tudo é que, mesmo nesta situação, conhecida e atestada por técnicos da área científica, a Prefeitura Municipal de Macapá não dispõe de um plano, por mais primário que seja, que demonstre esse conjunto de canais naturais de drenagem, a Lagoa dos Índios e o Rio Amazonas, como elementos naturais para os quais podem ser direcionadas as águas de chuva que caem em Macapá.

Mas ainda tem outra situação pior: a falta de direcionamento da expansão da cidade e, por isso também, as populações autóctones ou migrantes vão ocupando áreas que jamais poderiam ser ocupadas, pois, avançam a cidade sobre suas áreas de ressacas (bacias naturais de contensão) e sobre as cabeceiras e corpo dos próprios canais, interrompendo a sua efetividade natural com relação ao escoamento da água tanto para a Lagoa dos Índios como para o Rio Amazonas.

A Prefeitura de Macapá precisa, urgentemente, de um plano de drenagem para a cidade, com conhecimento de pontos de referência altimétrica (coisa que já teve) e construir as margens e os fundos dos canais naturais que, agora, estão recebendo toda a carga de resíduos carreadas pelas chuvas.

Há diversas técnicas de proteção de margens e fundos de canais, sobejamente experimentados e testados em outros sítios urbanos, tanto de maior como de menor densidade populacional.

Para resolver os problemas de drenagem da cidade de Macapá não precisa de opiniões, como as recentemente dadas pelo secretário municipal da Zeladoria Urbana de Macapá, quando afirmou que para resolver o problema precisava “engrossar os tubos de drenagem”.

Sugestão, venhamos, fora de qualquer técnica e sentido, para ser dada por um secretário municipal, primeiro escalão do prefeito.