Rodolfo Juarez

Toda vez que alguém pergunta para minha mãe, dona Raimunda Pureza Juarez, como ela está, sempre responde, com um ar de alegria e satisfação, que está linda e maravilhosa.

Pois bem, essa mulher, nascida nas entranhas da floresta amazônica, no dia 28 de abril de 1928, completa hoje 95 anos de idade, depois de ter dado vida e luz  a 12 filhos, a maioria nas dificuldades e facilidades do interior. Minha mãe sempre foi compreensiva e decisiva quando de andanças da família que não parou de crescer desde quando, aos 18 anos de idade, ouviu o choro do seu primogênito, eu.

Choros que foram mudando de autor conforme o tempo passava. Foram 12 nascimentos, “aparados” por parteiras, estas educadas pela prática e pela necessidade, afinal de contas, até hoje, o Norte do Brasil aparece nas estatísticas como a região com menor índice de médico por habitante. Essa estatística é de hoje, imaginem nas décadas de 40, 50 e 60.

Sou eu o primeiro filho da dona Raimunda e nasci em 1946. O Guanacy é o último e nasceu em 1967.

O casamento, aos 16 anos com o meu pai Heráclito Juarez Filho, foi marcante e à moda da floresta, sem luxo, mas com o firme propósito de cumprir o que ouvira no momento do casamento: “até que a morte os separe”. Guardou consigo a orientação e nunca a esqueceu.

E foi assim. Mesmo com a morte separando o meu pai da minha mãe no dia 3 de dezembro de 1973, ele com 51 anos e ela com 45 anos, foi minha mãe quem assumiu o comando da família e se fez com extrema habilidade e competência, fazendo do esmero e qualidade as suas referências principais.

Uma caminhada longa e com várias etapas. Evidente que houve necessidade de adaptações para cada uma dessas etapas da vida, mas, em nenhum momento, deixou de focar no objetivo principal que determinava a qualidade e a direção da vida que queria.

Quando meu pai faleceu, minha mãe, dona Raimunda, tinha completado 45 anos em abril. Naquela data, apenas 4 dos 12 filhos eram maiores, ou seja, haviam completados 21 anos (regra de então), os outros 8 filhos, portanto, eram menores de idade.

Analisa, minha mãe, a condição de como o n.º 4 faz parte da distribuição dos filhos: 4 nasceram no interior do Afuá; 4 nasceram na sede do município de Afuá, e 4 nasceram em Macapá, capital do Amapá, além de outas coincidências.

As fases da vida de minha mãe podem ser separadas, mas, sempre com forte interferência de uma na outras fases. A primeira fase  da criança e da adolescente, desde o nascimento em 1928, até 1944;  a segunda fase, de dona de casa e da maternidade, 1945 a 1969; a terceira fase, de dona de casa e empresária, de 1970 a 1980; a quarta fase, de dona de casa, de 1981 a 1988; e a fase atual, desde 1989 até agora.

Cada fase demonstra inteligência, competência e capacidade para lidar com uma grade família, equilibrando as dosagens de amor e configurando um ambiente onde todos merecessem o mesmo carinho e recebesse a mesma importância.

Neste momento, quando alcança a marca de 95 anos, minha mãe já tem dificuldades para lembrar de todos, mas, de cada um ela sabe tudo. As vezes faz que não sabe e deixa a todos boquiabertos quando revela que sabe e, sabe muito.

O Edward, seu 7.º filho, avalia que a mamãe está na fase da “testemunha perfeita”: só lembra o que ela quer e só sabe o que lhe convém.

Minha mãe, graças a Deus, depois de 95 anos, me abençoa como a todos os que lhe pedem bênção, lucidamente e tranquilamente.